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Polaroid

Polaroid

14
Abr12

A estátua do Pessoa está sentada na Brasileira do Chiado

José Maria Barcia

 

 

É uma estátua sentada

À espera e até já viu porrada.

É o Álvaro, o Bernardo e tantos outros,

Sentados, à espera.

Mão altiva sem companhia,

Um banco preenchido

Por fotógrafos estrangeiros

Que sentem o cobre da pessoa Pessoa.

Fernando, estás a ver o Chiado?

E o Camões ao pé de ti?

A estátua do Pessoa está sentada à espera.

Puseram-te de perna traçada e olhar infinito,

Ao menos em pé,

Que te fazia justiça ao apelido.

10
Abr12

Coragem

José Maria Barcia

Coragem não é ser inconsciente. Muito pelo contrário é saber de antemão tudo o que pode acontecer. Ser bravo de espírito e de alma em nada se relaciona com feitos heróicos e imortais. Ser corajoso é, ao mesmo tempo, mais e menos que isso. Mais porque se sobrepõe a actos singulares de uma ou outra coisa valente. Menos pois não é preciso tanto.

 

Ser corajoso é enfrentar as consequências que o nosso mais mísero acto acarreta. Ser bravo é arriscar, muitas vezes sabendo que a estatística joga contra nós. Ser assim é amar sem amanhã. É passar um mês e que esse seja o último - mesmo que não seja.

 

Ser corajoso é não escrever o resto deste texto e ir dizê-lo.

09
Abr12

A vida e a morte

José Maria Barcia

Dizem que a vida acaba na morte e a morte é o fim último. E estar vivo é o contrário de estar morto e que devemos respeitar a memória de quem morre do modo mais pesaroso possível.

Tudo errado. Primeiro, viver não acaba em morrer. Viver acaba no esquecimento. Essa é a real imortalidade: memória. Viver é, depois de morrer, estar na cabeça de quem merece. Entretanto, o luto deve ser feito, óbvio, mas depois há que saber aproveitar a memória. De preferência da melhor maneira, com um sorriso, e ainda melhor, com um riso. Há que saber gozar com o pior que pode acontecer aos nossos. E por gozar não se entenda uma manifesta falta de respeito, pelo contrário, é por Amor que isso se faz. Ora veja-se, passar por um situação e rir sabendo de antemão o que a pessoa que já foi iria fazer. Isso é respeito. É cagar a rir imaginando que a própria pessoa gozaria com o próprio funeral. Propriamente apropriado da própria morte, se pudesse ver o meu funeral pregaria partidas a quem me fosse visitar. E deixaria uma carta aos meus amigos e família. Qualquer coisa como ‘’Eu morro, mas vocês vão-se rir quando deviam estar a chorar’’.

Tratar a morte com demasiado respeito faz mal. A morte devia levar um murro no nariz. E, sangrando no chão, um pontapé nas costelas. E porquê? Porque a puta é inevitável. Como tal, enquanto puder, vou tratá-la mal. Pancada nela que ela merece.

Quando morrer vou deixar um testamento todo bonito, com advogado e tudo. No fim, há-de estar um post scriptum declarando que estava a gozar e que a fortuna amealhada era falsa. Apanhei-os pela última vez, talvez. Depois peço a alguém para entregar o verdadeiro testamento, uma espécie de guest list reservada para minha casa com uma garrafa de água para cada um dos convidados. Essa é a minha herança, água. Quem não entender não recebe o resto.

Ainda há outra coisa sobre falar em morte. É como falar sobre sexo – toda a gente sabe falar, nem todos sabem fazê-lo. Não há vivalma que não tenha histórias mirabolantes de aventuras no estrangeiro com esta ou aquela ou ainda o outro. Como também não deve haver quem não encara a morte do seu ponto de vista. Sejam corajosos, cobardes, respeitosos ou católicos ou outra treta qualquer. Como no sexo, ninguém é como diz.

A morte, tal como o sexo, é fodido. O que não quer dizer que até ao momento não se possa gabar e palhaçar o tema. Até ao momento. Quando ele chegar, logo se vê quem aguenta a pancada.

28
Mar12

São tantas as vezes em que o que interessa dizer não é dito.

João Gomes de Almeida

São tantas as vezes em que estamos cansados. São tantas as vezes em que não fazemos um gesto largo. São tantas as vezes que deixamos as mais variadíssimas coisas por dizer às pessoas de que gostamos. São tantas as vezes que vivemos obcecados com nós próprios. São tantas as vezes que não paramos para pensar no que é nosso. São tantas as vezes que nos sentimos sem forças. E é em todas essas vezes que o que mais interessa dizer é "amo-te".

24
Mar12

A problemática dos problemas das pessoas

José Maria Barcia

A partir de certa idade é razoável partir do princípio que toda a gente tem problemas. Há maiores e menores: são conhecidos como ''bagagem''. Uma mala enorme que vem mais ou menos escondida e que se vai revelando à medida proporcional ao descobrimento do outro.

 

Os dramas e os problemas são parte inerente e fio condutor da personalidade de cada um. Embora uns possam ser considerados o fim da estrada para uma relação (seja de que tipo for) , outros fazem aquilo que os problemas têm de melhor: uma aproximação entre duas pessoas da melhor maneira.

 

Explico. Se partilhar glórias e qualidades é, digamos, porreiro, discutir e debater problemas e bagagens é quase infinito. Enquanto na primeira conversa, o raio de acção acaba num ''Oh, que giro'' ou ''Não posso, fantástico'', entrar de peito aberto nos problemas alheios é equiparável a mergulhar no meio do oceano. Naquele meio sem ilhas ao pé, sem salvação possível.

 

O mistério no outro, faz procurar mais. E melhor, faz tentar ajudar. Se fores bom, vais querer ajudar. Se fores bom e o outro te interessar, vais ajudar. A capacidade de ajudar parte de um princípio de superioridade. Só posso ajudar se aquele problema específico não me causar grandes maçadas. Ao início, claro está. A jusante, é suposto o problema engolir os dois intervenientes. E nesta englobalidade problemática, cria-se a relação entre essas duas pessoas.

 

Aparentemente, é assim. As relações duradouras estabelecem-se com base em problemas. São as malas e sacos que fundamentam as boas relações pois é aí que dois se juntam para combater um.

19
Mar12

Pai.

João Gomes de Almeida

As melhores palavras sobre o nosso pai são aquelas que nunca escrevemos. Por muito pouco trôpega que seja a nossa escrita, torna-se sempre pequenina, quase inútil, perante a força do que gostaríamos de transformar em palavras bonitas o quanto bastem para poderem honrar o nosso pai. É sempre tudo tão redondo, lamechas e piegas, que poucos são aqueles que se atrevem a pôr em linhas o sentimento mais puro que temos dentro de nós: a filhelhidade

 

O Herberto dizia que "a mãe é mais alta coisa que um homem cria". Este verso é como que assassino, capaz de num tiro matar todos os argumentos possíveis sobre o sentido da vida. Ao nascermos, como nos diz Herberto, já cometemos o maior dos nossos feitos: fizemos nascer uma mãe. Tudo o resto é pura imagem, sacanagem e mundo, o resto do mundo. Os maiores seres da história da humanidade, por muito que tenham feito, nunca suplantaram o seu primeiro acto em vida - dar à luz a própria mãe.

 

No entanto, por norma, subestimamos a paternidade. Ser pai é bastante mais difícil do que ser mãe - digo-o sem nunca o ter sido. À mãe une-nos o cordão umbilical, as primeiras refeições, a ternura própria da maternidade e todo o imaginário que a humanidade foi construindo em volta da figura maternal. A Virgem Maria está em destaque na Sagrada Família, enquanto o pobre do José é arrastado para um espectro secundário. Sempre assim foi.

 

À mãe, na maioria das vezes, basta-o ser. Ser pai é um acto de conquista. Nunca deixará de ser um acto de afirmação, uma luta constante e desigual em competiçao com a mãe. Os pais não podem dar à luz, e é nesse momento que são empurrados para o papel secundário. Muitas vezes acabam por se transformar em actores principais - mas nunca nenhum o conseguiu sem muito esforço, suor e lágrimas.

 

O meu pai tem o mérito de nunca ter sido um actor secundário e nunca ter tentado obter o papel principal. Orgulha-me pensar que sempre substitui a rigidez e disciplina típicas da paternidade, pela ternura, carinho e apoio, típicos da amizade e do amor. Liderando o lar pelo exemplo e estando sempre ao meu lado, mesmo nos momentos em que eu não estava ao seu lado. Ensinando-me que no amor o mais importante é sermos incondicionais. Independente do que se tem em troca, dos erros, do passado e do resto da vida. Ser pai é isso mesmo, amar incondicionalmente.

 

Pai, é por ti que quero um dia também eu ser pai. Para continuar o que me ensinaste. Incondicionalmente. 

12
Mar12

A resposta do meu irmão

José Maria Barcia

Guilherme, Zé e Avó,

Hoje derramei todas as cores que outrora vi, todas as sementes que semeei, as estrelas que alcancei, todas as paisagens que assisti ou as tristezas que vivi, Caiem de dentro de mim. . . Agarro-as, desesperado como nunca estive, mas como água elas fogem das minhas mãos inúteis e continuam a derramar do meu interior já vazio para o chão seco. Sinto-me fraco, mas não fico por aqui, sonho ingenuamente que não os perdi.

Desapareceram muito antes de eu reagir, sugados pela terra ou evaporados para o céu. Restam-me gotas nas minhas mãos e derramo agora lágrimas por ti mãe.
Sorte a minha de me restarem gotas, pois essas gotas tão enormes que realmente são, três anos depois, fazem-me sorrir de novo e fazem-me chorar de novo.

Ninguém sabe tanto quanto eu o que vocês sentem, tal como, ninguém sabe tanto quanto vocês o que eu sinto.

Ao vosso lado sinto-me inteiro, sinto que a mãe existe e nessas alturas ela está feliz, sei que sim, por criar pessoas como nós, os filhotes, porque se ela olhar para vocês como eu o faço, ela vê pessoas espectaculares.

 

Francisco Barcia

10 março 2012

09
Mar12

Dedicado aos meus irmãos, Francisco e Guilherme

José Maria Barcia

 

Faz hoje 3 anos que a nossa irmã nasceu com o preço que isso teve.

 

Faz hoje 3 anos que nós tivemos que lidar com algo que não é suposto lidarmos com esta idade.

 

E já passaram 3 anos e nós aqui estamos.

 

Hoje o dia é feliz por causa da Camila, é triste por causa da Mãe. Temos saudades dela e eramos capazes de tudo para a ter de volta. Mas isso não pode ser. E nós continuamos cá.

 

E faço-vos uma confissão: estou há 3 anos para escrever um texto que vos dedicasse. Hoje é o dia porque não há melhor data que a de hoje. E se pudesse tirar a mágoa que vos sentem, não hesitaria um segundo.

 

Francisco e Guilherme, nós os 3 chorámos e continuamos a chorar. E isso faz bem. Faz bem ter saudades da Mãe porque assim não nos esquecemos do que ela nos ensinou. Nunca pensem que estão sozinhos. Nunca estarão. Eu não vou deixar. A Mãe já não está cá mas eu continuo cá e não vou deixar que nada vos aconteça. E a Camila está a crescer e vai precisar dos irmãos mais velhos.

 

Quando chorarem de saudades, consigam sorrir no fim. Sorriam pela Mãe e por mim. É um favor que vos peço.

 

A Camila nasceu há 3 anos. O preço foi a Mãe. E andámos aqui a tentar perceber porquê, porque raio não foi outra pessoa qualquer mas não vale a pena sentir isso. Sintam orgulho. Emocionem-se. Sejam felizes como ela queria. Podem ter a certeza que não havia nada mais que ela queria do que ver os filhotes felizes. Eu sei isso e vocês os dias também.

 

Este é o dia triste e vai sê-lo para sempre. Mas não precisa de ser só triste. Nasceu a nossa irmã. E é a nossa irmã mais nova. Como vocês são os meus irmãos mais novos. É a nossa obrigação ensiná-la quem foi a Mãe. Para que um dia a Camila possa ter a sorte em conhecer a Mãe. Como nós tivemos.

 

Perdoem-me se não cumpri a minha função de irmão mais velho quando devia. Eu não consigo sozinho. Preciso da vossa ajuda.

 

Um forte abraço do, para sempre vosso, irmão mais velho que nunca vos vai deixar sozinhos

21
Fev12

Preconceito estereotipado

José Maria Barcia

O preconceito é um arma de defesa contra o desconhecido. Cria-se preconceitos quando não sabemos o que vamos enfrentar. Esteoreotipamos quando precisamos de saber em quê batalhar. É racional criar uma ideia de alguém que não conhecemos.

 

Por clareza, não falo do preconceito básico, como aquele que motiva o racismo ou estereotipo que vai dar ao xenofobismo. Não. Pode-se até dizer que é um tipo de preconceito inteligente. Aquele que criamos a uma pessoa e não a uma raça ou um credo ou a outra coisa qualquer.

 

Esta é a história daquele que criou um preconceito face ao estereotipo criado de antemão a outra pessoa. E um dia surpreendeu-se. Ficou sem resposta, ficou sem saber o que fazer. Ao sair da sua área de conforto ficou desamparado. Como este texto: desamparado.

 

Este texto não faz sentido. Faria sem não tivesse existido uma conversa anterior. Faria todo o sentido do mundo se fosse original. Este é um texto fácil pois é uma reprodução de uma conversa.

 

Este texto não vale a pena ser lido. Fale a pena ser dito e ouvido. Aliás, escrever é um acto medroso. Palavras caras, figuras de estilo, tudo e mais um bocado para embelezar uma ideia que dita não parece tão bela. Falar não é fácil, fácil é escrever.

 

De que vale escrever quando amanhã podes dizê-lo?

14
Fev12

Dia dos Namorados

José Maria Barcia

Hoje é dia 14 de Fevereiro, dia dos namorados. Até aqui não há novidade.

 

Hoje, todos os textos serão de apologia ao amor ou de crítica à comercialidade deste dia. Ou porque hoje imensas relações brotam da escuridão do segredo, ou porque hoje é preciso ir comprar qualquer coisa para a cara-metade. Há ainda a versão do dia dos namorados dos solteiros e solteiras desse mundo, conhecidos, neste dia, como os ''encalhados''. Por pura honestidade intelectual tenho que admitir que me encontro nos últimos. Por favor, não quero convites para jantar, nem declarações nem flores. Se bem que um misto das três coisas não fazia mal a ninguém. A sério, meninas, don´t be shy.

 

Ora, voltando ao tema. O dia de hoje afigura-se tendo apenas duas soluções: ou se ama ou se odeia amar os enamorados. Os primeiros porque olham para este dia como o Natal das relações. É dia especial de espalhar, mostrar, declarar o amor. Por outro lado, os solteiros que não conseguem ver demonstrações públicas de amor. Esses dizem mal dos primeiros mas no fundo a invenja é muita. É como passar um Natal sozinho.

 

Por mais comercial que seja o dia dos namorados, não interessa muito a quem nele participa. Ir jantar, trocar umas lembranças e a surpresa à espera do fim da sobremesa. E se com isso ele ou ela gastarem metade do ordenado desse mês, o que interessa?

 


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Obrigadinho!

 

O Polaroid podia ter ganho o prémio de Blog Revelação do ano 2011 da TVI24, mas infelizmente vocês são uns leitores do caraças e não votaram em nós! Mesmo assim, vamos continuar a escrever, sendo que quem levou a taça foi o @ChicodeOeiras e a sua malta esquerdista! Já percebemos que vocês preferem o Mao ao amor e o Enver Hoxha aos nossos textos bonitos! . Agradecemos a vossa ajuda! Obrigadinho malta!


PS - O Zé Maria obrigou-nos a colocar no final disto: "mas continuamos a gostar de vocês".

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