Liberdade, justiça, igualdade, alegria, beleza, paz
De boca cheia saem estas palavras todas de quem não as merece dizer. Passam por armas de arremesso, escudos que impedem seguir em frente.
A liberdade de se ser. A justiça para o conseguir ser. A igualdade de oportunidades para poder ser. A alegria de o ser. A beleza inerente e a paz que daí advém. Parece simples e até é. Em palavras. Sem segundas intenções. Estes são fins e meios. Não é um meio para outro fim nem um fim através de outros meios.
Estas palavras são usadas muitas vezes da maneira errada. ''Freedom fighters'' é em si uma contradição. Fazer justiça através da força, da morte é outra. Igualdade para todos quando nem todos merecem ser tratados da mesma maneira. Alegria atingível rápida e facilmente, torna-a supérflua. Beleza que implique passar fome, ter as melhores roupas ou o melhor penteado não é beleza. E paz. Guerra para ter paz.
Não.
As conotações erradas de palavras com valor absoluto é um impeditivo do objectivo das mesmas. Não se pode nem se deve usá-las levianamente. Ensinaram-me que há palavras que não se devem usar muitas vezes porque perdem o seu valor. Na altura, essas palavras eram ‘’obrigado’’ e ‘’desculpa’’. Mais de uma década depois, junto estas 6. Desconfio de quem as usa muito pois não sabem o seu verdadeiro significado. Pois não podem. A repetição constante de uma palavra cria uma estranheza na sonoridade desta. E não me refiro só à política. Há no dia-a-dia exageros destas palavras. Justiça para todos! Liberdade sem limites! Iguais somos todos! Seja alegre! Seja belo! Tenha paz!
Não.
Recuso-me a aceitar viver numa sociedade que acha que a justiça é igual para todos. Que todos merecem a liberdade tida quando abusam dela. Muito menos que somos todos iguais. Nem pensar: todos diferentes, todos diferentes. Alegria? Mais vale tentar ser feliz. E a beleza? A física é efémera. Tão que às vezes basta um dia. Por fim a paz. Talvez, no último dia. E só depois do último fôlego.
Portanto, fica aqui a minha carta aberta contra o uso e abuso destas palavras.
Não as usem tanto pois perdem valor. E de palavras belas está escasso ele mundo. Não as estraguem.