Está tudo maluco
Gosto de conversas que começam com ''está tudo maluco''. Acabam da melhor maneira.
Ora, explico. É simples. Pode vir de um episódio no trânsito, de uma notícia da televisão ou mesmo de uma história de aconteceu ao amigo do irmão do sobrinho do irmão do pai. E a história é esta '' epá, aquele gajo fez isto e depois ainda foi lá fazer aquil'' seguido de um comentário ''está tudo maluco, pá''. E porque é que estas conversas são óptimas? Porque nos fazem lembrar que malucos somos todos.
Da história mais mirabolante há sempre semelhanças com algo que nós fizemos. Portanto, após a parte do ''está tudo maluco'' vem, imediatamente, o ''e lembras-te quando fiz aquilo'' ou ainda ''pá, mas e quando tu foste ali fazer aquela coisa mas depois fizeste a outra''.
As conversas que começam com ''está tudo maluco'' levam, inevitavelmente, a um patamar de aproximação ao sujeito culpado de cometer um acto fora dos trâmites normais. É que, se ele é maluco, então porque é que eu também não sou? E tu, quando fizeste aquilo ao outro?
Esta conversa, de copo na mão, só pode levar à nostalgia dos nossos actos malucos. E esses, esses são sempre e motivo de orgulho. Na altura, claro que não. São de vergonha, medo até. Mas diz o ditado ''ainda te vais rir disto''. E é verdade, os momentos mais embaraçosos, e agora falo só por mim, são aqueles que mais penso em contar aos meus netos. O que são conquistas académicas comparadas àquela vez que pus um rato na aula? O que é um ordenado avantajado relativamente ao dia em que corri nu pela praia? Ou ainda, quando a vida me estiver a passar pela frente, vou-me lembrar de quê? Se puder escolher, quero-me lembrar de todas as vezes que fui parvo, pateta e tonto. Quando fui inconsciente, infantil e imaturo. Porque quando encontramos um amigo da escola, daqueles que não vemos há imenso tempo, o que tem mais piada é relembrar esses momentos.