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Polaroid

Polaroid

30
Nov11

O meu amor é marxista-leninista-trotskysta-morenista.

João Gomes de Almeida

O amor que sentimos por quem amamos pode e deve ter uma definição política, que não tem que ser necessariamente a nossa orientação política. Durante os últimos dias tenho reflectido bastante sobre o assunto. Alguns de nós somos uma espécie de anarco-sindicalistas, principalmente quando refilámos dos sogros que temos, outros são fascistas, quando deixam que o ciúme se transforme em possessão. Há inclusive seres que são um tipo de democratas-cristãos de índole sexual, atrevendo-se pouco a experimentar coisas novas e tendo algum pudor em falar com a sua paixão sobre o assunto.

 

Eu a ter uma ideologia no amor - e sabendo que todos temos uma - acho que sou marxista-leninista-trotskysta-morenista. Ora vejamos, abstenho-me de perder muito tempo a explicar a dialéctica marxista, mas aqui vai: defendo a igualdade, ou seja, o comunismo do amor - acredito piamente na ditadura do proletariado aplicada aos sentimentos, em que todos lutamos contra o pior dos males: o amor capitalista e materialista, que neste momento, ameaça de extinção os longos e doces beijos à chuva e as cartas pirosas com frases roubadas ao Esteves Cardoso através do Google.

 

Esta coisa, chamada Google, aliás, transformou-se - não tenho medo do dizer - no Pravda do amor moderno, ou se preferimos, no livrinho vermelho do Mao que transportamos no bolso, mas agora em formato de telemóvel, para sacarmos sempre uma grande frase para conquistarmos quem amamos.

 

O leninismo amoroso já é outro passo. É a acção da paixão, a conquista do czar, a mobilização das tropas para que todos os Outubros sejam vermelhos como a rubra paixão. São todas as nossas forças materializadas nos camponeses e operários que se lançaram para a frente na conquista de S. Petersburgo. O amor é uma revolução leninista, não se trata de uma transição pacífica ou de um referendo popular, mas sim de um acto de rebeldia que só pode ser imposto pela violência dos sentimentos.

 

Agora que todos já estão pensar que sou um cunhalista do amor português é que chega o trotskysmo. O apelo da revolução permanente e internacionalista, que deve ser feita sempre e em qualquer lado. É a continuação do leninismo, a coragem de lutar sempre e todos os dias, para que o amor dê certo, para que a revolução nunca tenha um fim. Amar é fazê-lo todos os dias e se nos lembrássemos mais de Trotsky certamente que não existiram tantas zangas no amor.

 

O meu amor é mesquinho, por isso sou morenista. O morenismo é uma corrente trotskysta criada por Nahuel Moreno, líder revolucionário argentino e autor do livro "O partido e a revolução", que rompeu com a corrente dominante da IV Internacional trotskysta, liderada na época pelo belga Ernest Mandel. O motivo? Aí está o cerne da questão: o sandinismo na revolução da Nicarágua. Mas que raio, como é que um argentino e um belga se zangam por causa da Nicarágua? A verdade é que Nahuel Moreno, que já tinha pertencido à III Internacional, abandonou Mandel e fundou a LIT - IV Internacional. Também no amor sou assim, mesquinho o quanto baste para ligar a todos os pormenores e para me chatear e preocupar com tudo e mais alguma coisa.

 

No fundo, o meu amor talvez seja tão utópico como as ideias de Marx, Lenine, Trotsky e Moreno. Mas de qualquer forma, o meu amor é de quem acredita, de quem o vive como se fosse o maior dos objectivos políticos, a maior das causas e a maior das guerras. Amar é sermos isto mesmo, sonhadores, indecisos, irreverentes, revolucionários e utópicos, isso mesmo, utópicos.

 

Amo como quem se levanta todos os dias acreditando que vai mudar o mundo, ao teu lado, fazendo a nossa própria revolução.

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Obrigadinho!

 

O Polaroid podia ter ganho o prémio de Blog Revelação do ano 2011 da TVI24, mas infelizmente vocês são uns leitores do caraças e não votaram em nós! Mesmo assim, vamos continuar a escrever, sendo que quem levou a taça foi o @ChicodeOeiras e a sua malta esquerdista! Já percebemos que vocês preferem o Mao ao amor e o Enver Hoxha aos nossos textos bonitos! . Agradecemos a vossa ajuda! Obrigadinho malta!


PS - O Zé Maria obrigou-nos a colocar no final disto: "mas continuamos a gostar de vocês".

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