A minha geração indignada.
Nunca consegui ter uma posição clara sobre o movimento dos “indignados”. Por um lado, confesso que olho com algum desprezo para alguns dos organizadores destas manifestações, por outro, compreendo a simpatia que o movimento consegue acolher junto de muitas pessoas da minha geração.
Em primeiro lugar, tenho a dizer que acho patético olhar para estas manifestações e ver tipas de vinte e muitos anos, licenciadas em Antropologia, com um mestrado em Ciências da Cultura e seis meses de Erasmus em Roma, pensarem que a formação que todos nós lhes financiamos no ensino público, lhes dá direito a um emprego (9 anos de ensino básico + 3 anos de ensino secundário + 3 anos de primeiro ciclo de Bolonha + 2 anos de segundo ciclo de Bolonha = 17 anos, no total).
Sejamos claros, o Estado, ou seja, todos nós, já garantimos a estas meninas as bases para arranjarem um emprego e se não o arranjaram foi apenas por dois motivos: primeiro, porque escolheram um curso que sabiam que à partida não tinha empregabilidade; segundo, porque pensaram que um simples diploma lhes garantia o acesso a uma promissora carreira profissional.
Deixo agora uma pequena reflexão: quantos dos indignados que estiveram presentes naquela manifestação, se preocuparam, durante o curso superior, em criarem networking profissional junto das empresas e profissionais da sua futura área de actividade? Quantos utilizaram as redes sociais profissionais, como o LinkedIn, por exemplo, para o fazer? Quantos se preocuparam em produzir material crítico, na blogosfera, por exemplo, de forma a se tornarem líderes de opinião na sua futura área de trabalho? Quantos utilizaram as redes sociais como o Facebook, Twitter e o Google +, para divulgarem o seu trabalho académico e trocarem informações com os seus futuros colegas? Quantos fizeram parte de associações da sua futura indústria, sendo parte activa e participante nas suas actividades? Quantos produziram material científico para revistas académicas da especialidade? Quantos leram diariamente as publicações estrangeiras sobre a sua área? Quantos é que compram diariamente um jornal nacional? Quantos se preocuparam em estudar a empregabilidade do seu curso superior e respectivo mestrado? E por fim, quantos é que já tiveram a iniciativa de partirem ao desafio e, vendo que não têm hipótese de realização profissional a curto prazo na sua área, decidiram trabalhar por conta própria?
No entanto, percebo e concordo com aqueles que marcaram presença na manifestação pelo fim dos falsos recibos verdes, dos horários de trabalho de 10 e 12 horas diárias, dos trabalhos qualificados pagos com ordenados baixos e da prepotência de muitos patrões, que continuam, principalmente fora dos grandes centros urbanos, a tratar os funcionários com base no berro, no insulto e na falta de respeito.
Todos precisamos de fazer uma autocrítica e pensar como o estado pode ajudar, numa altura de crise, a juventude a realizar-se profissionalmente e a conseguir emancipar-se. Estas manifestações bem que podem ser um começo.